Descubra como excluir seus dados do aplicativo de rastreamento de período. O sigilo médico nos aplicativos não existe.
A decisão recente do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de criminalizar o aborto no país tem repercussões que se espraiam por vários setores da sociedade.
A tecnologia não é exceção.
Nas redes sociais, sugeriu-se que as mulheres apaguem aplicativos de monitoramento menstrual – teme-se que os tribunais usem os dados destas ferramentas contra as usuárias.
Não é de hoje que especialistas alertam para o cuidado necessário com informações cotidianas, como mensagens de texto e históricos de pesquisa.
O novo cenário de proibição do aborto agrava o quadro em que se opõem a privacidade e o uso de dados por parte de terceiros.
Nos estados americanos onde o aborto passará a ser ilegal, as mulheres que quiserem recorrer a este procedimento têm razão de recear que seus dados pessoais possam ser transformados em armas contra elas.
Algo que muita gente desconhece é a questão do sigilo médico: ele não existe no uso de serviços de saúde digitais, o que inclui aplicativos.
Isto significa que as empresas que os disponibilizam têm grande liberdade para decidir o que fazer com os dados coletados.
E mesmo aquelas que afirmam proteger a privacidade dos clientes ficam de mãos atadas se forem sujeitas a uma intimação ou um mandato.
Os aplicativos de monitoramento menstrual coletam informações como os estágios do ciclo menstrual, síndrome pré-menstrual e atividade sexual. Também há alguns que alertam para períodos em que é mais provável a usuária engravidar.
Aqui mora o perigo: se os dados mostrarem, por exemplo, que uma mulher parou de menstruar durante algum tempo e depois recomeçou, isto pode indicar a interrupção de uma gravidez.
Uma questão particular e íntima se torna, assim, pública.
Embora seja remota a possibilidade de tais apps serem usados para processar mulheres suspeitas de realizar abortos ilegais, a possibilidade passa a existir.
Úteis para se acompanhar assuntos relacionados à saúde reprodutiva, os aplicativos de monitoramento menstrual não representam um risco grande do ponto de vista legal, segundo especialistas.
Mas, levando em conta a mudança de paradigma do veredicto recente nos EUA, é possível que muitas mulheres achem mais seguro se livrar das informações de sua saúde pessoal à disposição de empresas – e talvez das autoridades.
Como todos os outros, os aplicativos de monitoramento menstrual são fáceis de desinstalar.
O problema é que isto pode não bastar para apagar os dados registrados – o app de uma empresa americana mantém os dados armazenados durante três anos.
A razão é simples e conhecida, mas não custa lembrar: embora alguns aplicativos armazenem os dados no aparelho da usuária, muitos o salvam em nuvens.
Neste segundo caso, não basta desinstalar o app. É preciso apagar a conta para evitar que as informações sobre o ciclo menstrual permaneçam acessíveis para a empresa e terceiros.
E mesmo a desativação da conta não garante o apagamento imediato. Certos aplicativos de monitoramento menstrual podem demorar semanas para fazê-lo.
Para ter certeza de que a solicitação foi atendida, é boa política entrar em contato com o serviço de atendimento ao consumidor.